6 de julho de 2010

Mindwalk - O Ponto de Mutação



   O filme, de 1990, é baseado no livro The Turning Point, do físico austríaco Fritjof Capra. Dirigido por Bernt Capra.
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   Sonia Hoffmann (Liv Ullmann) é uma física desiludida com os rumos tomados pela ciência. Após descobrir que suas pesquisas com microlasers estavam sendo utilizadas no projeto americano Guerra nas Estrelas, ela decidiu isolar-se em um vilarejo francês para repensar a vida.
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   No mesmo país, na capital, vive o poeta Thomas Harrimann (John Heard). Ele abandonou a cidade de Nova York por não suportar um modo de vida mercantilizado e refugiou-se no velho mundo para recuperar-se da decepção profissional e de um casamento fracassado, e para tentar superar, com tranqüilidade, a crise de meia idade que o acomete.
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   Na América no Norte, seu amigo Jack Edwards (Sam Waterston) é um político bem sucedido. Porém, após perder as eleições para presidente dos Estados Unidos da América, sente-se esgotado, confuso em relação aos rumos de sua carreira e solicita socorro. Edwards recebe um convite de Thomas para passar uma temporada na França e o encontro dos dois com Sonia Hoffmann marca o início do conflito proposto em Ponto de Mutação.
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   O cenário onde a trama tem sua evolução é um castelo no alto do Mont Saint Michel. Uma construção medieval localizada na fronteira com a Normandia e a Bretanha. A região é famosa por possuir a maré mais alta do mundo. Em alguns pontos, ela atinge até quinze metros e deixaria o vilarejo de La Mont Saint Michel completamente isolado do continente, se não fosse um acesso construído para ligar a ilha à França.
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   É aí que os três se encontram para a fantástica discussão da obra, que nos desperta interesse em diversos assuntos; questões existenciais, políticas, sociais e ambientais. O conflito de ideias entre os personagens nos eleva a uma reflexão crítica inspiradora.
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  Com observações sobre Isaac Newton, William Blake; num contraste entre filosofia, física, física quântica, história, poesia, literatura e sociologia.
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Para assistir ao filme: O Ponto de Mutação
Citações do filme:

"As pedras falam, eu estou calado."

"Os sistemas não encorajam a prevenção, só a intervenção."

"Ver o mundo como máquina pode ter sido útil por 300 anos... mas esta percepção, hoje, além de errada, é na verdade nociva."

"Precisamos de uma nova visão do mundo."

"O mundo muda mais rápido que a percepção das pessoas."

"Crise de percepção."

"O átomo é feito, basicamente, de espaço vazio.
Por que não atravessamos todas as coisas? Por que tudo é tão sólido? O que torna a rocha sólida?"

"A matéria não existe com certeza e em lugares definidos... mas sim mostra tendência a existir."

"A matéria é sólida porque padrões de probabilidade são difíceis de ser comprimidos."

"Se as portas da percepção se abrissem, tudo apareceria como é." - William Blake

"A vida é um monte de padrões de probabilidades de conexões."

"Na física atômica, nunca se têm objetos. A natureza essencial da matéria não está nos objetos, mas nas conexões."

"As relações (nota-acorde-melodia) formam a música.
As relações formam a matéria."

"E nós estamos no meio da dança cósmica de criação e destruição... todos nós, todo o tempo."

"Acordamos com um pâncreas novo todo dia."

"Sabiam que a maior parte do pó nas casas é só pele morta?
Nossas casas estão cheias de pele morta."

"A dinâmica evolutiva básica não é a adaptação, é a criatividade."

"Não evoluímos no planeta, evoluímos com o planeta."


É citado no final, pelo poeta, este poema,

O que uma lagosta tece lá embaixo com seus pés dourados?
Respondo que o oceano sabe.
Por quem a medusa espera em sua veste transparente?
Está esperando pelo tempo, como tu.
Quem as algas apertam em teus braços? Perguntas mais firme que uma hora e um
mar certos?
Eu sei perguntas sobre a presa branca do narval e eu respondo contando como o
unicórnio do mar, arpado, morre.
Perguntas sobre as plumas do rei-pescador que vibram nas puras primaveras dos
mares do sul.
Quero te contar que o oceano sabe isto: que a vida, em seus estojos de jóias, é
infinita como a areia incontável, pura; e o tempo, entre uvas cor de sangue tornou a
pedra lisa encheu a água-viva de luz, desfez o seu nó, soltou seus fios musicais de
uma cornicópia feita de infinita madrepérola.
Sou só uma rede vazia diante dos olhos humanos na escuridão e de dedos
habituados à longitude do tímido globo de uma laranja. Caminho como tu,
investigando as estrelas sem fim e em minha rede, durante a noite, acordo nu. A
única coisa capturada é um peixe dentro do vento.
(Pablo Neruda)

O castelo Francês Mont St. Michel:



   Um castelo erguido sobre um rochedo, visitado por muitos turistas. O monte Saint-Michel é um ilhote rochoso na embocadura do Couesnon, no departamento da Mancha, na França, onde foi construído um santuário em homenagem ao arcanjo São Miguel. Seu antigo nome é "monte Saint-Michel em perigo do mar" (Mons Sancti Michaeli in periculo mari).
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   A história da Abadia do monte Saint-Michel remonta, crê-se, ao ano 708, quando Aubert, bispo de Avranches, mandou construir no monte Tombe um santuário em honra a São Miguel Arcanjo (Saint-Michel). No século X os monges beneditinos instalaram-se na abadia e uma pequena vila foi-se formando aos seus pés. Durante a Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra, o Monte Saint-Michel foi uma fortaleza inexpugnável, resistindo a todas as tentativas inglesas de tomá-la e constituindo-se, assim, em símbolo da identidade nacional francesa. Após a dissolução das ordens religiosas ditadas pela Revolução Francesa de 1789 até 1863 o Monte foi utilizado como prisão. Declarado monumento histórico em 1987, o sítio figura desde 1979 na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO.
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Uma citação do artigo de José Renato de Oliveira,

[...] Por mais simples que possa parecer o filme, em termos cinematográficos,
como a fotografia ou mesmo a mudança de cenários, que são raros, esses
elementos pouco importam. Acima de tudo, os diálogos grandes e bem
seqüenciados são a máxima do filme. Tão rico em conteúdos, não bastariam poucas
palavras para comentá-lo, porém resta aqui discutir o tema principal que trata a
película: a necessidade de uma nova visão de mundo, diante de uma crise de
percepção por qual passaria a humanidade.
Para a cientista Sonia Hoffmann (Liv Ullmann), o pensamento de René
Descartes, embora muito útil para a sociedade em que ele viveu, por se afastar do
pensamento estritamente religioso medieval para explicar a natureza, muito
atrapalha a sociedade atual. Descartes criou o pensamento mecanicista, tido como
cartesiano, pelo seu nome em latim, cartesius. O pensamento cartesiano explicava a
natureza como uma máquina que poderia ser desmontada para ser compreendida.
Isaac Newton ainda teria contribuído no pensamento cartesiano quando formulou a
três leis do movimento na física, que influenciou as artes, a política e toda a
sociedade. Enxergar apenas as partes e não o todo, esse foi o erro que Descartes
cometeu e que fez as nações tão interessadas apenas em suas próprias partes.
O homem é uma ilha? Pergunta o poeta, Thomas Harrimann (John Heard).
Claro que não! O homem precisa estar ligado em algo, precisa se relacionar em
sociedade para sobreviver. A cientista norueguesa mostra através da física que
apesar de todos nós não percebermos somos interligados por partículas
subatômicas. Trocamos energia o tempo todo. Em termos de micro para o macro
não há nada no universo em que não haja interligações ou interconexões. Porém
vivemos atualmente uma crise de percepção de todas as coisas, pois normalmente a
humanidade só pensa em seus problemas isolados e não conseguem perceber que
tudo faz parte de um todo: o universo.
Essas idéias são apenas suas? Pergunta o terceiro personagem, o político
Jack Edwards (Sam Waterston), que apesar de ser bem sucedido acabara de perder
as eleições para presidente dos EUA. Não, eu não sou louca. Responde a cientista
completando alguns nomes de cientistas que também completam a teoria dos
sistemas, como Prygogeno, Bateson e Maturama. A teoria dos sistemas tem a
interdependência como um fato científico. Um sistema se mantém, se renova, se
transcende sozinho. O sistema do universo é determinado por ele mesmo. A
correlação de todos os elementos presentes no universo pode fazer com que ele se
mantenha sozinho, sem intervenção alguma. “A essência da vida é a auto-
organização”, completa a cientista, concluindo o fato de que precisamos nos auto-
organizar para saber utilizar todas as potencialidades do nosso sistema.
“Nossas casas estão cheias de peles mortas”, repete o poeta a frase da
cientista que soa como poesia. Ela, a frase, se refere a demonstração de que nosso
próprio corpo se renova todos os dias e que boa parte da poeira que se varre numa
casa é composta por células epiteliais mortas. Isso tudo acontece sem que
percebamos. Precisamos mudar nossa visão de mundo.
“A dinâmica evolutiva básica não é a adaptação, é a criatividade”. Ao invés de
acreditar num mundo onde todas as coisas são mecanicamente mutáveis, a cientista
explica que há muito mais inteligência na natureza. Um campo de centeio que
cresce numa região em que chove todos os dias fica amarelo no verão, mas não
deveriam. É como se lembrassem que surgiram no clima seco do sul da Ásia.
“Não evoluímos no planeta, mas com o planeta”. Uma frase excelente para
ser usada nos discursos do político Jack diz muito mais do que se poderia imaginar.
Os Estados Unidos são criticados por serem a nação mais rica do mundo, que utiliza
40% dos recursos mundiais com uma população que representa apenas 6% no
mundo. Uma nação conhecida por ser a mais feliz e pacífica é a maior consumista
de drogas do mundo e tem uma das maiores taxas de suicídio também. Como
explicar essas contradições? É a idéia de evolução, ela não ocorrerá isoladamente
no planeta, mas com todos os povos que também é parte do próprio planeta.
Por fim, o poema de Pablo Neruda representa uma metáfora sobre todo o dia
em que os três personagens passaram juntos e sobre o que suas vidas
representavam diante das idéias que se propuseram a pensar. O poema, algo
também meio distante e às vezes incompreensível, também junta a teia de relações
que é a humanidade. Diante das teorias frias e puras da cientista e das idéias
práticas do político, a poesia recitada pelo poeta os faz calar e refletir sobre o que
suas vidas têm feito nesse processo, sobre como eles têm contribuído com sua parte
diante do todo. A razão do pensamento científico passa a fazer sentido no calor das
palavras do poeta, ao aproximar-se da vida comum e rotineira das pessoas.
Todo o discurso do filme é uma realidade ainda hoje. As pessoas estão
acostumadas com a modernidade, com o neo-liberalismo, com o conforto e
mergulhadas nos seus sentimentos nacionalistas. Recebem tudo pronto em suas
mentes e mal podem pensar que todas as coisas criadas pelo homem podem e
devem ser moldadas. Até a natureza parece agir baseada na lógica. Precisamos
pensar com maior relatividade a mediação do conhecimento diante de todas as
“descobertas” que nos são impostas e modificam nosso modo de agir na sociedade,
parte de uma nação, parte de um continente, interligado a um sistema maior, toda a
humanidade.
Disponível em: google docs

4 comentários:

  1. Li o Livro e estudei, sobre Física quântica é muito bom, abre novos caminhos pensamentos e atitudes do ser humano, outro livro muito bom do mesmo autor é O TAO DA FÍSICA de Capra, divino vale a pena dar uma olhda:)

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  2. Oi Daniela, assisti esse filme um tempo atraz e é sem duvida nem uma um dos melhores que ja assisti. Deixo uma sugestao, assista zeitgeist, caso nao tenha visto... vale a pena...
    abraço!
    felipe sandri

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  3. você pode estar em varios lugares ao mesmo tempo, isso nao eh lindo:)? ADORO o CAPRA:)

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